quinta-feira, abril 29, 2010

Zé Povinho - A transvaloração da tragicomédia


É quase certo que, uma vez rimada e com melodias vocais, uma canção estará entrando num território perigoso da MPB. Ou vai ser banal, prezar a rima pela rima, ser quase um pop comercial; ou vai chegar perto daquilo que se ouve uma vez e, pronto, gostasse de imediato pela simplicidade de dizer coisas inteligentes, sob acordes bem elaborados. Música com princípio, meio e fim é como se pode definir, de imediato, a feita pela banda Zé Povinho. Liderada pelo letrista e compositor Kid Andrade, a banda lança no Recife, seu primeiro CD, "A transvaloração da tragicomédia". O Recife está precisando que uma banda como Zé Povinho ocupe mais seus palcos. É a estética da periferia por quem de fato vive nela. As letras da banda narram fatos do cotidiano do homem comum, que pensa reflete, e também faz poesia. Não existe o olhar do exótico, que comumente assiste-se em determinadas produções pseudo sócio-culturais. As referências estão todas lá, de Tom Zé, Chico Buarque, Jorge Ben a Ave Sangria e Pink Floyd. O vocal carregado de sotaque pernambucano de Kid reforça o rock misturado que se aprendeu a fazer tão bem por aqui. O melhor de tudo são mesmo as historias nas canções: A Barata e o Sapato, Currículum Vitae, Leite de Pernambuco, Peixe, O Campo, Meretriz, O Circo das Maravilhas Tropicais. Críticas às vezes mais explícitas, outras metafóricas, embaladas - e aí está a outra parte interessante do álbum - por melodias em geral alegres. Exemplo disso é Planetinha, onde Kid canta, acompanhado por um coro infantil: "o corpo em que eu vivo/ é tão grande quanto a minha imaginação/ minha intuição, meu canto/ se torna pequeno quando vejo-o num grão/ me acresço em órbita desse mundo cão". Impagável a faixa “Peixe”, Convidei o Peixe, pruma Peixada em peixinhos/no dia ele foi sozinho, meio cabrêro depois relaxou...achou demais passar pro dentro da favela, antes ela do que a Panela, foi você quem inventou. Até quando canta o carnaval, como no frevo rock "Galo na Cabeça"(esta com a participação de cannibal nos vocais), Kid faz sua crítica. Reside mesmo neste contraste entre letra e música a parte mais atraente do Zé Povinho sem contar que a banda toda colabora para a construção de uma musicalidade completamente livre de rótulos. Para cantar juntos e pensar também. Michelle Assumpção - Diário de Pernambuco-24/04/08 Encontramos uma novidade promissora, o Zé Povinho, nome digno de ser acompanhado com atenção. Eles transam bem influências de rock e MPB e se lixam para os clichês da MTV. Renato L. - Diário de Pernambuco-27/07/06
Zé Povinho - A transvaloração da tragicomédia
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